sábado, 21 de julho de 2012

Humanidade

Espaço suspenso ... Repleto.... Espesso.
Até posso senti-lo, apalpa-lo.
No deleite do toque,
a necessidade de fixa-lo...

O humano e todos seus anseios ...

Diante do diverso, limito, divido
o eu, o outro, o próprio espaço...
Mantenho sob controle, como parte de mim.
Nesta cultura de consumo, sem perceber,
faço toco do outro, pedaços de mim...

Me reorganizo ao escrever,
engavetar em palavras
emoções, sentimentos,
no ritmo, no tempo,
entre acordes e acordos...

Sinfonia de sons, tons, dons...

Impulsionada pela dança libertária,
já sem fôlego, no âmago do mergulho,
atinjo uma memória cósmica.

Entre meteoros e estrelas,
deuses e selvagens,
 magos e guerreiros,
as vítimas e seus algozes,
tudo fazendo parte de mim,
dando sentido ao meu existir.

Como herdeira do Espírito, acolho
derrotas e vitórias, o antigo e o novo,
lágrimas e risos, tudo num só sentimento
de poder e amor, chamado humanidade.

Que só se sentirá rico e pleno
quando até o último dos homens
puder desfrutar de sua integridade.


domingo, 1 de janeiro de 2012

Instante brilhante

Se fôssemos capazes de viver todo êxtase
que a vida nos proporciona,
ao mergulharmos no presente,
inteiramente, de corpo e alma,
será que prolongaríamos nosso tempo,
ou morreríamos instantaneamente,
na explosão da luz, como uma estrela?




terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Fadiga


Exprimo um choro contido
ao descobrir que durmo
no ponto do tempo
um profundo sono
desértico sem sonhos...
Vendaval decepou encantos
alianças de gelo derretido
poças refletem o desconhecido
história sem sentido
imagem de uma estranha
face do real
nela resta o sal
da lágrima seca
solitária sob o sol.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Desabafo

As vezes sinto um enorme desejo
de ser diferente de mim,
ter outras crenças...
Como a de que meu corpo
é limitado e que minha alma o habita,
isolados do resto do mundo.

Como seria mais fácil crer
que estou protegida por uma redoma,
que não interajo com os outros,
que não vibro em ressonância
com diversas frequências,
enquanto me relaciono.

Como gostaria de ser mais terrena,
menos perceptiva, menos fluida...
Deixar de me fundir ao outro,
e ao mesmo tempo me confundir
e não mais saber, o que é meu ou dele.

Como me confortaria a prepotência humana
em crer que Deus se ocuparia
dos meus problemas pessoais,
enquanto sucedem-se catástrofes mundiais.

Na compaixão, as dores seriam só minhas,
não me afetariam tanto as dores do mundo.

Como dar conta desta expansão
e ao mesmo tempo  lidar
com a contração deste pequeno eu,
nesta imensa solidão de mim mesma?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Folha em branco


A rede de intersecções, 
com nós em séries,
encerra uma estrutura. 

Ao desatar um nó,
o fio fica solto
e desenlaça um após outro.

Através das palavras,
a miragem vira um quadro.

Sua textura estratificada
cristaliza o belo
num perfil de realidade. 

O choque, o espanto,
torna inexprimível
o instante do impacto.

 No desencanto,
a quebra traz o sublime
ponto de interrogação.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

                        Fluxo Infinito                            
                                           O
                                        medo
                                vigia o momento.
                          Enlaça em suas sombras
                      as    fronteiras    da     lucidez.
              Nos deparamos em sonhos, em livros,
                      nos  lábios  d'outras  pessoas.
                             Envolta   por   trevas,
                                Percebo no grito,
                                      no plexo
                                          dor
                                            .
                                          Ei!
                                     Desperte,
                               guerreiro do amor!
                          Fusão    de    polaridades ,
                     a  razão    aliada    a     intuição,
                  fará   cintilar    símbolos    na   noite.
                      Com  a   energia   da   reflexão,
                             o   fluxo   do   infinito...
                                 De  polo  a  polo,
                                      movimento,
                                            luz!

domingo, 27 de novembro de 2011

Gratidão

O movimento do eu-espírito
que vibra  ao redor de mim,
faz sentir a energia do experimento
tangível ao corpo, imerso em Vida...

Lanço-me nesse fluxo na arte de ser e de amar,
mesmo que neste decurso, torne nuvem a se abismar.
Na plenitude do vazio, o expansivo acolhimento difunde-se,
mergulho nesta lacuna, em busca da pessoa una.

Num êxtase tântrico, infindável estado de sublimação.
Como tua vestal, entrego-me num estar-instantâneo.
Na dissipação da luz, elevo-me...
Transpasso a superfície de vidro do teu templo,
atingindo a transparência numa união quase divina...


Em meio a loucura, a queda... 
Caio contraída na rede simbólica dos afetos e desafetos.
Nela pousa este corpo ferido.
- Não finjas que não dói!
Deixou marca profunda no sonho de uma vida a dois,
onde até a solidão foi compartilhada.

No resgate de mim e de minha solidão,
recolho o que de mais precioso projetei em ti.
Me recomponho com maior intereza.
Quanta beleza havia que não sabia!

O mergulho foi profundo... 
Mas como conhecer a luz,
se nos conformarmos com a escuridão da inconsciência?

Serei eternamente grata pelo nosso encontro.                      

.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Que sentimento é este?

Do nada surge, invade a gente,
toma conta do corpo e da mente.
No ato de servir a mesa,
o desejo de saciar toda fome, toda sede,
de possuir um colo imenso
capaz de alimentar não só os filhos,
mas todos os famintos....
Acalentar, aliviar suas dores,
afetar seus humores....

Que sentimento é este?
De tamanha grandeza, que invade a gente
e de repente nos transporta
de indivíduo à Mãe Natureza?

Que sentimento é este?
Que num instante de total integração,
nos remete às profundezas do Ser?!

domingo, 20 de novembro de 2011

Morte


O ponto
onde
espaço e tempo
se consomem.
A absoluta
conversão
à unidade,
o buraco negro....
Do lado de lá
o que haverá?
A anti-matéria?
O inverso
deste universo?
Ou o avesso
deste verso,
Vida?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Momentos

Sentimentos apoderam-se de mim,
Ainda não consigo definir...
Fluem como a água de um rio,
sem rumo, nem destino...

Tem momentos repousantes,
como a vivência em um lago...
uma existência serena e concordante.

Tem momentos intensos, desapego vital.
Ao soltar-se em queda, rolar entre pedras ...
energisa-se num dinamismo natural.

Tem momentos sublimes,
que atinge o mais alto grau de pureza,
evapora-se, eleva-se em nuvens.

Tem momentos de vibração total.
Ao tom da agitação atmosférica,
deixa-se cair num estrondoso temporal.

Tem momentos de profundo mergulho,
em meio ao oceano, resgata-se monstros e os  transforma, o obscuro torna-se primoroso.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Viver

Na hélice infinda
das galáxias ao dna,
cósmica e orgânica
circula a vida.

Quão diverso cada momento!
Tudo se transforma,
diante da força estranha
do auto conhecimento.

Como sentir esta força
se já se perdeu a esperança?
E na pretensão de muito ter
só restou do ser a insegurança?

É preciso coragem,
diante de si e do outro,
ao desvelar a imagem.

Como num mágico ritual
onde o Amor atrai deuses
e o imaginário torna-se real.

sábado, 12 de novembro de 2011

Semente

Semente

Energias que se afinam,
conjunções de forças
que nos desprendem
da realidade visível
e nos faz submergir no inaparente,
Em meu coração, plantas-te uma semente...

Complexo movimento o nosso,
na interação com o mundo,
em meio a um turbilhão,
pontos se condensam, se intensificam.
O abstrato torna-se mais consistente,
Em meu coração, nutre-se a semente...

Sinto-me livre para dizer
que estou envolvida
na rede indefinível de afinidades.
Em meu coração, brota a semente...

Cada vez mais crescida,
já tem volume, ocupa espaço
na minha vida, na minha mente,
em meu coração, transforma-se a semente...

Pensei jamais sentir assim,
vê-la brotar, crescer, se transpor.
Hoje sinto teu perfume em mim
e mesmo distante, sinto-te presente,
pois da semente floresceu o Amor.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Raiva

O que fazer contigo
que afloras do nada
neste verde gosmento
de bílis arrebatada.

Digeres os amores,
as cores, os sabores...
O sentir fica paralisado
neste envolver desesperado.

Menina danada, vens com fúria
cutucar a ferida ardente, em sangue.
Ainda quer que se prolongue
este estado de penúria?

Um basta devia te dar,
mas me deixas temerosa,
pois sei que és perigosa,
não devo te sufocar.

No teu jogo, me aventurarei
e sem apegos a tua artilharia,
toda tua energia transmutarei
numa força aliada minha.




domingo, 30 de outubro de 2011

Luar zero

Campos de ângulos retos,
segunda natureza...
Distinta forma em círculo
traz lembrança, surpresa

e um bucólico nexo,
com excentrismo lunático.
A sua luz reflexo
se opõe ao laser apático.

De forma imparcial
transita no espaço ermo,
sideral ou virtual,
realidade em termo.

Esta natureza outra
de compleição impassível,
faz jogo de roleta,
cai em zero, indivisível.




Transmutar

Portas abertas,
correntes de ar,
elos potentes
atiçam o fogo...

No peito, o amor
reluz o branco.
Através de prismas
emite-se raios,
do infra ao ultra...

Raios coloridos
de energia pura
ferem as feras,
ferem os instintos
dos mal-amados.

Olhares condicionantes,
em flechas direcionadas,
que detêm os amantes...

Amor forte, sem posses,
camufla-se,
para não se deixar violentar.

E ao harmonizar a energia,
do coração emerge a poesia,
do cadinho, a alquimia,
na vida, a maestria....



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Paixão


A sua força fascina,
ao mesmo tempo assusta,
pois é devassadora,
invade, penetra...
Incorporada se sente.
De repente, algo ressente!

Membranas fronteiriças que se rompem
ao se entregar plenamente.
Dúvida? Impotência?
Se misturam na ânsia
de querer, o quê?

A força bruta depurada,
um vôo elevado, um bailar contínuo
no ritmo de um sentimento genuíno,
sem posses, com suavidade
e a singularidade respeitada.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Micro-Ciência

Palavras são flores
ao enfeitar as frases
de um livreto senil.
- Lar de um micro-bio.

Pelas páginas viajas,
como se tivesses asas.
E paralisas o instante,
só, sobre o pingo do i.

Pairas na rota simbólica,
onde o ponto se torna elo
da corrente bio-lógica,
em que és nada e ainda centro.

Eu, expectador sapiente,
parcialmente indiferente,
te exporto, te miro no microscópio,
te retalho, te julgo irrisório.

Um minúsculo ponto branco
que se reproduz, se alimenta do pó.
Na garganta, silencioso nó,
término de todo encanto.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

CRIANÇA BRASIL

Fruto amargo da desunião,
já és rejeitado no ventre,
e para não sentires solidão,
te dão uma família enorme.
Assim aprendes logo cedo
a disputar o pão,
alguns trocados roubados,
um cobertor doado...
A dissimular a dor, o frio, a fome...
Cresces a deriva de uma sociedade
que se organiza em te usar
como instrumento,
como sustento de entidades
que te prometem caridades.
Te nomeiam o trombadinha,
te subjulgam, te oferecem drogas,
te presenteiam com a hipocrisia.
E tu agora sem forma,
te tornas uma ameaça pública.
Após te encurralarem em becos,
extirparem tua dignidade,
hasteiam a bandeira do "progresso",
e te matam em nome da "ordem",
pois és o símbolo da ignorância,
                           da inconsciência,
                           da covardia social.






quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Humildade

do pedaço de céu que se joga no mar
e deixa-se quebrar nas rochas....

Estrondoso o vento, seu Zumbido,
que desgarra apegos,
limbos escorregadios, envolventes, macios,
que ocultam a rigidez da soberba...

Paciente o tempo,
que aguarda a delicadeza
na fina areia da praia...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A-comod-ação



Da cômoda sai o punhal
afiado pros cortes
de luzes e sombras.

Em planos cartesianos,
ângulos retos,
labirintos secretos,
destaca-se o vão do cotidiano,
preenchido pela distorção.

O telejornal do dia
anuncia a desin-form-ação...

Sociedade desconexa, acéfala,
acomodada, assiste e se regala,
entorpecida pelo narcótico oficial.

Derepente, pressente apenas o reflexo,
no pânico da in-cômoda realidade:
um palco caótico, brutal e um
cenário do descaso cultural...