domingo, 30 de outubro de 2011

Luar zero

Campos de ângulos retos,
segunda natureza...
Distinta forma em círculo
traz lembrança, surpresa

e um bucólico nexo,
com excentrismo lunático.
A sua luz reflexo
se opõe ao laser apático.

De forma imparcial
transita no espaço ermo,
sideral ou virtual,
realidade em termo.

Esta natureza outra
de compleição impassível,
faz jogo de roleta,
cai em zero, indivisível.




Transmutar

Portas abertas,
correntes de ar,
elos potentes
atiçam o fogo...

No peito, o amor
reluz o branco.
Através de prismas
emite-se raios,
do infra ao ultra...

Raios coloridos
de energia pura
ferem as feras,
ferem os instintos
dos mal-amados.

Olhares condicionantes,
em flechas direcionadas,
que detêm os amantes...

Amor forte, sem posses,
camufla-se,
para não se deixar violentar.

E ao harmonizar a energia,
do coração emerge a poesia,
do cadinho, a alquimia,
na vida, a maestria....



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Paixão


A sua força fascina,
ao mesmo tempo assusta,
pois é devassadora,
invade, penetra...
Incorporada se sente.
De repente, algo ressente!

Membranas fronteiriças que se rompem
ao se entregar plenamente.
Dúvida? Impotência?
Se misturam na ânsia
de querer, o quê?

A força bruta depurada,
um vôo elevado, um bailar contínuo
no ritmo de um sentimento genuíno,
sem posses, com suavidade
e a singularidade respeitada.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Micro-Ciência

Palavras são flores
ao enfeitar as frases
de um livreto senil.
- Lar de um micro-bio.

Pelas páginas viajas,
como se tivesses asas.
E paralisas o instante,
só, sobre o pingo do i.

Pairas na rota simbólica,
onde o ponto se torna elo
da corrente bio-lógica,
em que és nada e ainda centro.

Eu, expectador sapiente,
parcialmente indiferente,
te exporto, te miro no microscópio,
te retalho, te julgo irrisório.

Um minúsculo ponto branco
que se reproduz, se alimenta do pó.
Na garganta, silencioso nó,
término de todo encanto.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

CRIANÇA BRASIL

Fruto amargo da desunião,
já és rejeitado no ventre,
e para não sentires solidão,
te dão uma família enorme.
Assim aprendes logo cedo
a disputar o pão,
alguns trocados roubados,
um cobertor doado...
A dissimular a dor, o frio, a fome...
Cresces a deriva de uma sociedade
que se organiza em te usar
como instrumento,
como sustento de entidades
que te prometem caridades.
Te nomeiam o trombadinha,
te subjulgam, te oferecem drogas,
te presenteiam com a hipocrisia.
E tu agora sem forma,
te tornas uma ameaça pública.
Após te encurralarem em becos,
extirparem tua dignidade,
hasteiam a bandeira do "progresso",
e te matam em nome da "ordem",
pois és o símbolo da ignorância,
                           da inconsciência,
                           da covardia social.